Disbiose Intestinal

As bactérias fazem parte da nossa rotina e convivem diariamente conosco. A grande maioria não causa danos à saúde e vive em completa harmonia por todas as áreas do nosso corpo. Estima-se que o intestino abrigue cerca de 500 a 1000 diferentes espécies de bactérias, dessas, mais de 90% pertencem ao filo Firmicutes (gênero Clostridium, Enterococos, Lactobacillus e Ruminococcus) e filo Bacteroidetes (gênero Bacteróide e Prevotella). Existe o gênero Bifidubacterium com mais de 45 espécies já catalogadas. Este gênero é dominante em bebês saudáveis amamentados e, durante uma vida adulta, os níveis permanecem relativamente estáveis, com tendência para diminuir na senescência.

Quando tudo está bem, todas essas bactérias ajudam a digerir e absorver os alimentos, estimulam o sistema imune, e junto com a camada epitelial intestinal formam uma barreira protetora no intestino. Cada indivíduo possui uma microbiota individualizada que varia em número e espécie de bactérias, sendo influenciada por diversos fatores como idade, genética, dieta, uso de medicamentos e estado de saúde.

Quando essa população de microorganismos entram em desequilíbrio, prevalecendo a vontade das bactérias patogênicas, chamamos o quadro de disbiose intestinal. Ocorre inflamação, resultado do rompimento da barreira de proteção do intestino, tornando-o mais permeável e desprotegido. Sem a devida proteção, compostos tóxicos começam a penetrar no intestino até atingir a corrente sanguínea, resultando numa série de doenças capazes de acometer as mais diversas áreas do corpo. Alimentação e uso indiscriminado de alguns medicamentos são os maiores responsáveis pela alteração da flora intestinal. Medicamentos como antibióticos, pílulas anticoncepcionais, inibidores da bomba de prótons (usados para gastrite), corticóides e antiinflamatórios, são capazes de modificar a flora e manter essa mudança por até 4 anos.

Uma diversidade de doenças tem sido associada a esse desequilíbrio da flora intestinal, como obesidade, baixa absorção de nutrientes,  doenças inflamatórias intestinais, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, desordens neurológicas e cânceres.

Os prebióticos são fibras que alimentam os probióticos (bactérias benéficas). Como exemplos mais conhecidos citam-se: frutooligossacarídeos, galacto oligossacarídeos, inulina e oligossacarídeos. Eles não são digeríveis e chegam no intestino onde são fermentados pelas bactérias intestinais para sua nutrição e crescimento.

A partir da fermentação formam-se ácidos graxos de cadeia curta, principalmente acetato, propionato e butirato, com efeito modulador da inflamação, cicatrização, motilidade intestinal e fonte de energia.

Já os probióticos são os microorganismos vivos que quando consumidos adequadamente conferem benefícios à saúde do indivíduo tais como a melhoria da função e integridade do revestimento intestinal. Os mais utilizados são os lactobacillus, bifidobacterium, enterococcus e streptococcus. Quando a barreira intestinal é agredida, substâncias estranhas passam a entrar com facilidade formando imunocomplexos (complexos formados por imunoglobulina ligada a antígenos que provocam uma reação do sistema imunológico). Quando um desses imunocomplexos apresenta semelhança com algum tecido local, o sistema imunológico vai atacar ambos, nascendo assim uma doença autoimune.

O intestino contém uma alta quantidade de linfócitos (células de defesa do corpo) e as doenças associadas com respostas imunes anormais contra os antígenos e inflamações tem aumentado rapidamente ao longo dos 50 anos, e incluem a doença inflamatória do intestino, esclerose múltipla, diabetes tipo 1, alergias e asma.

A administração de probióticos em conjunto com a ajuda das bactérias benéficas já existentes no local vão atuar de maneira competitiva com as bactérias patogênicas, exercendo sua ação de diferentes maneiras:

  • digere os alimentos e concorrem com os microorganismos patogênicos
  • alteram o Ph local criando um ambiente desfavorável para as bactérias maléficas
  • neutralizam os radicais superóxido, reduzindo o estresse oxidativo da mucosa intestinal
  • estimulam a produção natural de mucina (proteção da mucosa intestinal)
  • concorrem por aderência com os patógenos
  • modificam as toxinas das bactérias patogênicas
  • aumentam os níveis de células de defesa do corpo

Disbiose e Obesidade

Além do estilo de vida sedentário, uma dieta não saudável, alguns genes, os pesquisadores também apontam como causa de obesidade bilhões de bactérias intestinais. Novas evidências indicam que um desequilíbrio destes organismos pode alterar a forma de armazenar gordura, o equilíbrio dos níveis de glicose no sangue e a resposta aos hormônios que nos fazem sentir fome ou saciados. Esta constatação começou a ser objeto de estudo quando cientistas transferiram a microbiota de ratos obesos para animais magros e em seguida observaram que os animais com o peso normal ganharam um aumento de peso após a alteração de sua flora intestinal.

Mostram-se mais bactérias patogênicas do gênero Firmicutes e menos Bacteroides nos indivíduos de elevado peso.

Escolhas alimentares errôneas alteram o microbioma intestinal prevalecendo bactérias patogênicas podendo causar obesidade.

Uma vez que o intestino apresenta disbiose, toxinas pode se dirigir até o cérebro causando distúrbios psiquiátricos e neurológicos como autismo, ansiedade, depressão, estresse e até mesmo Alzheimer e Parkinson.

As bactérias presentes no intestino podem influenciar na secreção de inúmeros neurotransmissores. Isso significa que o intestino em desarmonia pode representar uma mente em desequilíbrio.

Devemos administrar medicamentos estomacais, antibióticos e antiinflamatórios somente quando realmente indispensáveis, e com a administração concomitante de probióticos para reposição e cuidado da flora intestinal. Muitos profissionais vem prescrevendo o seu uso para tratamento de cólica em bebês, constipação, dermatites atópicas, diarréia, inflamações intestinais, alergias, autismo, depressão e outros. Com o aumento de partos cesarianas e fórmulas lácteas prontas há uma grande alteração da flora intestinal dos bebês refletindo no seu desenvolvimento físico e intelectual.

“A saúde tem deixado de ser um estado natural para se tornar um bem a ser conquistado” recebemos diariamente inúmeras promessas para controle de doenças, mas efetivamente pouco ou quase nada para o resgate de uma condição natural que é a saúde plena, física, mental e emocional. Praticamente tudo que é produzido hoje pela comunidade científica é voltado para a doença. Elimina-se a doença e resgatamos a saúde! Mas isso não está acontecendo. Basta ver todos os esforços que foram feitos para o desenvolvimento de novas drogas, para o entendimento do genoma humano e para os avanços nas análises de imagens e bioquímicas, que tem propiciado diagnósticos cada vez mais precisos. Apesar de tudo, continuamos adoecendo. A atual matriz alimentar a qual estamos nos submetendo tem sido um dos principais vetores das doenças crônicas não transmissíveis, um efeito colateral, que propositadamente vem sendo negligenciado pelos órgãos de desenvolvimento científico e gestores de políticos públicas de saúde.

Entre as poucas iniciativas científicas que procuram entender as verdadeiras causas do desencadeamento de doenças crônicas estão o PROJETO MICROBIOMA HUMANO, lançado em 2007 pelo instituto nacional de saúde dos EUA, e o PROJETO METAGENÔMICA DO TRATO INTESTINAL HUMANO ( MetaHIT), lançado em 2008 pela comissão europeia e a China. Estes dois projetos reúnem mais de 100 centros de pesquisas em todo o mundo e tem como objetivo identificar mais de 10 mil espécies de bactérias que habitam as grandes superfícies mucosas do corpo humano, as vias nasais, cavidade oral, pele, trato gastrointestinal e trato urogenital.

Através de técnicas de sequenciamento genético está sendo possível identificar os mais de 100 trilhões de micro organismos que habitam nosso corpo, uma população dez vezes superior ao nosso número de células e com cerca de 180 vezes mais genes.

Estamos testemunhando uma transição da era do genoma para a era do microbioma.

A microbiota intestinal saudável é responsável pela síntese de vitaminas como K2, B12, B1, B2, B3, B5, B6, ácido fólico e biotina. Além disso, faz o ajuste das “tight junctions” pode ser desencadeada por bactérias patogênicas, substâncias pró inflamatórias e gliadina (gluten).

A microbiota produz enzimas como a lactase, proteases e peptidases, além de formar muco gastrointestinal e produção de ácidos graxos de cadeia curta a partir de fermentação de fibras solúveis e prebióticos (FOS, inulina) que são a maior fonte de nutrição para as células intestinais.

Produz imunoglobulinas IgA intestinal e circulante para que o organismo entenda que o alimento não é um agressor. A absorção dos alimentos tem que atravessar as membranas dos enterócitos (células intestinais) e não entre os mesmos, pois se isso acontecer, podem surgir doenças autoimunes, sintomas físicos, emocionais ou mentais.

Cerca de 70% das células de defesa estão no intestino.

Quem faz funcionar o sistema imunológico são os nutrientes e a microbiota intestinal.

Doenças autoimunes como a esclerose múltipla, DM1 e artrite reumatóide são associadas com polimorfismos genéticos, então, a autoimunidade pode resultar da combinação de um genoma humano alterado e uma microbiota alterada.

Compreender os mecanismos moleculares de como a microbiota nativa pode afetar reações imunológicas a antígenos próprios, podem fornecer informações sobre as causas, e possíveis curas, para doenças autoimunes.

Eixo microbiota – intestinal – cérebro

Múltiplas vias diretas e indiretas mantém interações bidirecionais intensivas e extensivas entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso central, envolvendo o sistema endócrino, o sistema imunológico e o sistema neurológico formando a base do eixo.

Por exemplo, sob tensão, o cérebro pode influenciar a composição da microbiota intestinal através do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que regula a secreção de cortisol afetando a atividade de células imunológicas locais e sistêmicas, e, além disso, alterar a permeabilidade do intestino e função de barreira, modificando a microbiota intestinal.

Por outro lado, a microbiota intestinal e os prebióticos podem alterar os níveis de citocina circulantes que afetam as funções cerebrais. Tanto o nervo vago como a modulação do triptofano (precursor do neurotransmissor serotonina) interagem no eixo intestino cérebro.

Dados recentes tem revelado que o eixo tem efeito sobre as emoções, motivação, funções cognitivas, excitação emocional, comportamentos afetivos e processos de tomada de decisão.

A utilização extensiva de antibióticos é comumente associada com o autismo de início tardio (18 a 24 meses de idade), fazendo com que alguns pesquisadores acreditem na hipótese de que os desequilíbrios causados na microbiota normal podem permitir a colonização por microorganismos desencadeantes de autismo, ou promover o crescimento excessivo de neurotoxinas produzidas por bactérias tais como Clostridium tetani ou mesmo o crescimento exacerbado de fungos.

A microbiota intestinal pode ser responsável pelo enfraquecimento da regressão do autismo, incluindo a produção de neurotoxinas por um subconjunto de microbiota potencialmente patogênica, produção de auto-anticorpos, que resulta no ataque a proteínas associadas a neurônios, ou a produção microbiana de metabólico tóxicos que têm efeitos secundários neurológicos.

A disbiose pode existir na mucosa oral, trato gastrointestinal e mucosa vaginal, envolvendo bactérias e fungos. A intestinal precede todas as demais.

A conjunção das carências ou excessos predispõem a um ambiente favorável para que os fungos, até então habitantes naturais e inócuos da microbiota, encontrem condições, sem resistência, para sua proliferação exacerbada e consequente potencial de danos. As substâncias produzidas pelos fungos para a sua adesão às mucosas e as substâncias resultantes da fermentação de substratos alimentares para sua alimentação e sobrevivência é que irão desencadear sintomas no organismo, principalmente quando muito dessas substâncias são absorvidas pela mucosa intestinal alterada pela ação das exoenzimas produzidas pelos fungos (usadas para digerir o alimento que eles absorvem). Estas enzimas provocam inflamação local e podem digerir anticorpos IgA e IgM produzidos pelo sistema imunológico como reação aos fungos.

Esses processos associados vão agravar ainda mais a alteração da impermeabilidade intestinal permitindo que macromoléculas alimentares, metais tóxicos, substâncias tóxicas produzidas por fungos e bactérias patogênicas (endotoxinas) e outros xenobióticos consigam entrar no organismo. Além disso, ocorre comprometimento da absorção de micronutrientes. O sistema imunológico debilitado não consegue combater os fungos, gerando um círculo vicioso. Este processo por si só pode promover sintomas físicos, mentais e emocionais, consequentes de alergias alimentares, alergias ambientais, desequilíbrios hormonais, comprometimento das funções do sistema imunológico e carência dos nutrientes necessários para formação, manutenção, renovação e função celular.

Existem cerca de 5 mil espécies diferentes de fungos vivendo em nosso organismo como habitantes normais da pele, vagina e trato gastrointestinal. Nosso sistema imune nível de Ph e outros microorganismos (bactérias benéficas) nos protegem de maiores problemas pela exposição contínua ao fungo. A maior parte da sociedade adquiriu novos hábitos alimentares e comportamentais que as deixam mais expostas a agressores exógenos e endógenos.

Os fungos fermentam carboidratos refinados, lactose, proteínas mal digeridas e produzem substâncias como arabinose, ácido tartárico, acetaldeído e gliotoxinas. Todos estes metabólicos quando em quantidades normais não afetam a integridade da mucosa intestinal. Porém, se em excesso podem levar a vários sintomas e doenças como autismo, déficit de atenção, cistite intersticial, alteração na tireóide, TPM, dor mamária, cansaço, alterações do sono, depressão e outros.

O tratamento inicial requer a retirada de vários alimentos que aumentam a fermentação intestinal, antifúngicos, fitoterápicos naturais, destoxificação, imunomoduladores, suplementos alimentares, utilização de pré e probióticos e enzimas digestivas. Após o equilíbrio, reintrodução de alguns alimentos, porém alguns sempre em menor quantidade pois tem que prevalecer a superioridade das bactérias e fungos não patogênicos.

Com a obesidade tem aumento do estrogênio e com isso tem aumento do glicogênio no ambiente vaginal que serve para o crescimento e a germinação de leveduras (fungos como a candida).

O estresse adrenal crônico pode causar isquemia na mucosa gástrica e duodenal, diminuição da secreção do muco protetor, alteração da motilidade intestinal, impossibilitar a ligação de bactérias aos enterócitos, diminuição da imunidade e aumento da quantidade de E. coli, bacteroides e fungos.

Toda mudança de hábito, principalmente o hábito alimentar, que é arraigado ao nosso comportamento, causa certa expectativa. A mudança é difícil mesmo. O importante é estarmos conscientes que essa é a opção mais segura e mais eficiente para promover uma melhora na nossa qualidade de vida e de nossos familiares de forma permanente e prazerosa.

O objetivo não é oferecer mais uma “dieta milagrosa” e sim propor que passemos a adotar mais atitudes benéficas do que prejudiciais ao nosso organismo.

O tratamento nutricional impõe muito menos restrições ao estilo de vida do que as doenças ou sintomatologias, inclusive os distúrbios de comportamento apresentados.

Esperamos que no futuro, exista um maior reconhecimento dos danos que nossa matriz alimentar está provocando neste sistema e, que os tratamentos sejam menos agressivos e supressores, mais moduladores e reconstrutores, pois, só assim poderemos recuperar o controle de nossa saúde.

Gastrite

É provocada pela diminuição da produção de ácido clorídrico, enzimas digestivas e microbiota alterada.Pode ser causada por mudança de hábitos alimentares (industrializados, refrigerantes, bebidas gaseificadas e sucos prontos, temperos prontos, excesso de carboidratos, estresse,  fast foods, disbiose intestinal, obesidade, doença do refluxo gastroesofágico…).

O tratamento é focado em todo o trato gastrointestinal, reequilibrando a flora intestinal e gástrica, aumentando a acidez e repondo enzimas digestivas, além da mudança alimentar, controle do peso e exercícios físicos que ajudam a equilibrar a produção hormonal.

Com o envelhecimento, ocorre diminuição da produção de enzimas digestivas sendo necessária a reposição para evitar o excesso de fermentação no intestino levando ao aumento da produção de gases, constipação, digestão lenta e acúmulo de bactérias e fungos patogênicos piorando o quadro.

Com o uso indiscriminado de bloqueadores de bomba de prótons (remédios para gastrite), a flora intestinal fica mais comprometida piorando o quadro.

Há um excesso de exames de endoscopia e colonoscopia e o que vejo é a prescrição final destes medicamentos, porém não se faz uma reeducação alimentar e nem um estudo melhor da flora intestinal. Devemos lembrar que o número de intolerâncias alimentares tem aumentado devido aos transgênicos, agrotóxicos, exposição a metais pesados, excesso de carboidratos simples, conservantes, estabilizantes, xenoestrogênios e outros.