Pré-diabetes e diabetes

A diabetes é uma síndrome metabólica caracterizada pela falta de insulina e/ou incapacidade do organismo em produzi-la.

Existem basicamente dois tipos de diabetes: Tipo I e Tipo II

Tipo I – Geralmente aparece na infância e pode ser causada por fatores hereditários ou doenças autoimunes (o próprio corpo produz anticorpos que destroem o pâncreas). Esta é tratada com insulina e dieta.

Tipo II – Aparece mais tardiamente e geralmente vem associada à obesidade, hipertensão, alteração do colesterol, sendo chamada de síndrome metabólica. Ela é tratada inicialmente com medicamentos orais e dieta. Porém, com o passar dos anos o pâncreas vai perdendo as funções evoluindo para o uso de insulina.

O diabetes melito (DM) é uma doença crônica associada a complicações micro e macrovasculares de elevada morbimortalidade, requerendo cuidado contínuo, educação permanente e suporte para prevenção de complicações agudas e redução do risco de complicações crônicas . O DM do tipo 2 (DM2) é caracterizado por hiperglicemia crônica, resistência insulínica e deficiência relativa na secreção de insulina e é responsável por 90% dos casos de diabetes.

Uma epidemia de diabetes mellitus (DM) está em curso. Atualmente, estima-se que a população mundial com diabetes seja da ordem de 387 milhões e que alcance 471 milhões em 2035. Cerca de 80% desses indivíduos vivem em países em desenvolvimento, onde a epidemia tem maior intensidade e há crescente proporção de pessoas acometidas em grupos etários mais jovens, as quais coexistem com o problema que as doenças infecciosas ainda representam . O número de diabéticos está aumentando em virtude do crescimento e do envelhecimento populacional, da maior urbanização, da progressiva prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como da maior sobrevida de pacientes com DM.

Em um estudo longitudinal com 84.941 enfermeiras e seguimento de 16 anos, o controle de fatores de risco modificáveis, como dieta habitual, atividade física, tabagismo e excesso de peso, associou-se à redução de 91% na incidência de DM e de 88% nos casos com história familiar de DM.

Entre os fatores ambientais potenciais para o desencadeamento da autoimunidade em indivíduos geneticamente predispostos a DM 1 A estão certas infecções virais, fatores nutricionais (p. ex., introdução precoce de leite bovino), deficiência de vitamina D e outros (tipo de amamentação e parto?).

A categoria glicemia de jejum alterada está relacionada às concentrações de glicemia de jejum inferiores ao critério diagnóstico para DM, contudo mais elevadas que o valor de referência normal. A tolerância à glicose diminuída representa uma anormalidade na regulação da glicose no estado pós-sobrecarga, diagnosticada por meio de teste oral de tolerância à glicose (TOTG), o qual inclui a determinação da glicemia de jejum e de 2 h após a sobrecarga com 75g de glicose. A glicemia de jejum alterada e tolerância à glicose diminuída são categorias de risco aumentado para o desenvolvimento do DM, e o termo “pré-diabetes” também é utilizado para designar essas condições.

A Associação Americana de Diabetes (ADA) endossou a utilização da hemoglobina glicada (HbA1c) como método diagnóstico de DM e de pré-diabetes.

Uma maneira didática bastante simples para explicar aos pacientes os significados e as implicações dos testes de glicemia e de HbA1c é a comparação com os termos já bastante familiares àqueles que utilizam os serviços bancários: os testes de glicemia revelariam o “saldo atual” da conta bancária, ou seja, a quantidade exata de glicose sanguínea no momento do teste. Por outro lado, os testes de HbA1c apontaram o “saldo médio” da conta bancária durante os últimos 4 meses.

Valores iguais ou acima de 6,5% são considerados para o diagnóstico de DM.

A HbA1c tem muitas vantagens em relação à glicemia de jejum para o diagnóstico de DM, incluindo maior conveniência (por não ser necessário jejum), maior estabilidade pré-analítica e menor variação diária durante períodos de estresse ou doença.

A glicemia de jejum alterada é ≥ 100 mg/dl e < 126 mg/dl

A tolerância à glicose diminuída ocorre quando, após uma sobrecarga de 75g de glicose, o valor de glicemia de 2h situa-se entre 140 e 199 mg/dl .

HbA1c entre 5,7 e 6,4 % ( há variações na diretriz, pois a HbA1c de 5,1 equivale a uma glicemia de 98 mg\dl).

Estes 3 critérios envolvem a pré-diabetes.

O valor de 5,7 % da HbA1c apresenta uma sensibilidade de 66% e uma especificidade de 88% para predizer o desenvolvimento do diabetes mellitus nos 6 anos subsequentes.

Em uma revisão sistemática incluindo 44.203 indivíduos de 16 estudos de coorte, com um intervalo médio de seguimento de 5,6 anos, os que apresentavam HbA1c entre 5,5 e 6,0% apresentavam um risco de incidência do diabetes mellitus em 5 anos de até 25%. Entre 6,0 e 6,5%, o risco chegava a até 50% em 5 anos e um risco relativo de até 20 vezes, quando comparados a indivíduos com HbA1c de 5,0%. Outro estudo sugere que HbA1c de 5,7% estaria associada a um risco de desenvolver diabetes mellitus semelhante aos indivíduos da categoria de alto risco participantes do estudo Diabetes Prevention Program (DPP).

Critérios para o rastreamento de DM2 em indivíduos assintomáticos.

O rastreamento deve ser realizado em todos os indivíduos com sobrepeso (IMC ≥ 25 kg/m2*) e com fatores de risco adicionais:

  • Sedentarismo
  • Familiar em primeiro grau com diabetes melito
  • Grupos étnicos de maior risco (afro-americanos, latinos, índios, asiáticos, moradores das ilhas do Pacífico)
  • Mulheres com gestação prévia com feto com ≥ 4 kg ou com diagnóstico de DM gestacional
  • Hipertensão arterial sistêmica (≥ 140/90 mmHg ou uso de anti-hipertensivo)
  • Colesterol HDL ≤ 35 mg/dL e/ou triglicerídeos ≥ 250 mg/dL
  • Mulheres com síndrome dos ovários policísticos
  • HbA1c ≥ 5,7%, TDG ou GJA em exame prévio

Os valores de glicemias na gestação são diferentes das referências dos laboratórios, portanto os cuidados são redobrados e o mais importante é o controle do peso antes da gestação.

Sempre insisto no planejamento prévio para uma gestação saudável. Deve-se regular a tireóide e outros hormônios além da nutrição e exercícios físicos pois melhora muito o desfecho da gestação, diminui as complicações e, acima de tudo, não transfere os erros metabólicos para os filhos os quais irão se refletir durante a vida dos mesmos.

A obesidade tornou-se uma pandemia e me preocupa muito como serão serão as futuras gerações. Está cada vez mais difícil lidar com as complicações envolvidas com as alterações metabólicas e o aumento do número de cânceres relacionados com a obesidade.

O mais importante é termos consciência da prevenção tendo um estilo de vida saudável, incluindo atividades físicas regulares e alimentação adequada. Com isso, as chances de desenvolver a doença são bem menores. Muitas drogas são lançadas anualmente porém a evolução da doença é implacável.

A esperança é que com as pesquisas das células tronco e a nanomedicina tragam uma cura da doença, entretanto se a pessoa não tiver consciência de que ter um estilo de vida saudável seja primordial nenhum tratamento vai ser definitivo pois a doença poderá reaparecer.

Referência:
http://www.diabetes.org.br/profissionais/images/pdf/DIRETRIZES-SBD-2015-2016.pdf